
Em primeiro lugar porque a dor é muito profunda. Mais profunda que a causada pela goleada do Dragão – ainda assim frente a um opositor forte e inspirado, e numa prova com trinta jornadas - ou por qualquer outra das muitas derrotas já sofridas nesta época.
Em segundo lugar porque, sinceramente, não tenho conhecimento concreto do que se passa com a equipa, nem dos motivos que levaram ao total destroçar físico, táctico e anímico do grande Benfica da temporada passada. Sem fazer parte do grupo de trabalho, sem assistir a treinos, sem conhecer o balneário por dentro, tudo o que pudesse dizer não passaria pois de mera especulação, e o meu benfiquismo, tal como o respeito pelos leitores, impedem-me de entrar por aí.
Os factos estão à vista: saída da Liga dos Campeões sem um único golo marcado fora, com dez golos sofridos em cinco jogos, e com o próprio terceiro lugar fortemente posto em causa. Enfim, uma vergonhosa realidade, sobretudo para um clube que - certamente no entusiasmo de um título nacional muito esperado - se anunciava como candidato a chegar longe na competição europeia onde escreveu as mais belas páginas do seu historial.
No momento em que não podia falhar, o Benfica tombou estrondosamente, quase anedoticamente, soltando uma atmosfera de dúvidas e inquietação a seu respeito, da qual será difícil ver-se livre a breve trecho. Na Liga dos Campeões não houve arbitragens hostis, nem frangos de Roberto. Houve sim uma equipa sem estofo, que, por tudo o que não fez, não merecia outro desfecho que não esta eliminação sumária e implacável.
Pode parecer presunção, mas decorriam os primeiros dez minutos de jogo, e, mesmo com os comentadores da Sport Tv a cantarem loas à atitude inicial do Benfica, percebi que as coisas iriam, provavelmente, correr mal. O Benfica mostrava então que jogava ao ataque, e fá-lo-ia durante todo o jogo (como atestam os mais de vinte cantos conquistados). Acontece que atacar não é, por si só, sinónimo de jogar bem, e o Benfica atacou sempre, mas atacou sempre mal, sem rasgo, sem velocidade, sem agressividade, sem inspiração, sem eficácia. Criou algumas ocasiões, mas mais por via das fragilidades do adversário, do que pelos méritos de um futebol bem arquitectado. Na verdade, a atitude da equipa foi, desde o primeiro instante, e independentemente dos espaços que percorreu no relvado (mais ou menos próximos da baliza adversária), marcada por uma estranha passividade, cuja origem desconheço (sobranceria? esgotamento físico? factores anímicos?), mas que não foi, infelizmente, caso virgem. Muitos dos problemas evidenciados nesta partida já tinham sido patentes em Gelsenkirchen, em Lyon, e até no Dragão, pois em todas essas ocasiões havíamos visto um onze demasiado aberto, demasiado macio, a querer mostrar uma arrogância que a sua condição actual não lhe permite, acabando invariavelmente perdido nos seus próprios equívocos.
Não sendo episódica, esta noite merece pois uma reflexão profunda, até porque não pode ser normal o Benfica perder 3-0 perante um adversário que nunca havia ganho qualquer jogo na Champions League. Importa perceber, por exemplo, porque razão Saviola – uma das principais figuras da época passada – quase deixou de jogar, arrastando-se penosamente em campo, sem lhe sair um passe, um drible, um remate. Importa também entender a quebra de Javi Garcia, sistematicamente desposicionado e displicente, ou a total indolência de David Luíz, que parecia, uma vez mais, estar a divertir-se uma partidinha de praia entre amigos.
Há muito pois para analisar internamente, mas importa perceber, neste difícil momento, que a época não acabou aqui. O Benfica tem de encontrar rapidamente motivação e arreganho para ganhar ao Schalke, e seguir para a Liga Europa, pois caso contrário a situação passará a ser trágica. E por muito optimismo que me possa esforçar por manter, creio bem que – a avaliar pelo que se tem visto - existem razões para temer o pior dos cenários.
Cumprem-se hoje precisamente onze anos sobre os 7-0 de Vigo. Isso faz-me também pensar que nos últimos 15 anos, só por uma vez (com uma dramática vitória sobre o Manchester United) o Benfica passou da fase de grupos da Liga dos Campeões. Eis outro tema para reflexão.
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