
Se na altura acusei Jorge Jesus de assumir uma estratégia demasiado audaciosa perante um adversário superior, não seria coerente criticá-lo agora por ter feito precisamente o contrário. Analisar jogos depois de resultados consumados é como fazer o totobola à segunda-feira, pelo que se o leitor espera ver aqui mais um capítulo da crucificação do técnico benfiquista, o melhor será parar imediatamente de ler. Obviamente que o deslocamento de David Luiz (que parece continuar de férias) para o lado esquerdo veio a revelar-se um erro, tal como, a meu ver, a saída de Saviola terá constituído outro erro. Mas olhando friamente para o que se passou, não creio que as razões da copiosa derrota se esgotem nesse tipo de argumentos.
Começando pelo adversário, há que tirar o chapéu a este FC Porto. É verdade que foi ajudado no início do campeonato, é verdade que tanta energia com apenas dois dias de descanso após um jogo europeu causa alguma perplexidade num observador atento, mas, para além de tudo isso, há que admitir que a equipa de Villas-Boas joga um extraordinário futebol. O FC Porto apresenta uma coesão impressionante, defende e ataca em bloco, luta bravamente por cada posse de bola, tem jogadores em super-forma, é eficaz na frente de ataque, e vai com toda a certeza passear-se por este campeonato rumo ao título. E a continuar assim, há que admitir, será um campeão justo. Neste jogo, a sua superioridade foi tão clara, tão evidente, que não deixa espaço para qualquer argumento. Provavelmente nenhuma equipa do mundo ganharia a um FC Porto num dia assim tão fulgurante. E quando o adversário ganha bem, quando o faz com enorme brilhantismo, fica a mágoa, fica a tristeza, mas não pode haver lugar a qualquer tipo de revolta – o que, aliás, até acaba por atenuar a dor.
Teria este FC Porto, com todo o seu poderio, sido capaz de golear o Benfica da época passada? Claro que não. Poderia até vencer o jogo (como em Maio também venceu), mas um resultado de 5-0, entre candidatos ao título, remete necessariamente para a fragilidade de quem perde, e este Benfica tem, de facto, gritantes fragilidades. Como comecei por dizer, não foi a primeira vez que nesta época se colocou a jeito de ser goleado, e mesmo a série de cinco vitórias consecutivas para o campeonato lançou muitas reticências quanto à qualidade do futebol exibido. Prefiro deixar para mais tarde a análise profunda e detalhada aos problemas da equipa da Luz. Não quero fazê-lo a quente, sobre os destroços de uma humilhante derrota.
Importa dizer contudo que, embora o bi-campeonato seja agora uma miragem, ainda há muita coisa para o Benfica poder conquistar em 2010-11: desde uma campanha prestigiante na Champions, à Taça de Portugal, passando pela Taça da Liga, e, sobretudo, pela garantia do segundo lugar na Liga, e consequente acesso à próxima edição da principal prova europeia.
O pior que os benfiquistas poderão fazer neste momento é contribuir para que os efeitos desta derrota acabem por desagregar a equipa e o clube. Este treinador, e grande parte deste plantel, foram campeões há precisamente seis meses atrás. É preciso saber manter a serenidade, e não contaminar o esforço que seguramente todos eles irão fazer para encontrar as causas da derrota, e a melhor forma de reagir a ela. Muita gente quererá aproveitar a escorregadela do Benfica para o tentar atirar ao chão. Que não sejam os benfiquistas, na sua ingenuidade, a ajudar a isso.
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