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À BEIRA DO PARAÍSO

Written By irvan hidayat on Rabu, 03 November 2010 | 04.00

As últimas imagens são normalmente as que perduram. Só assim se compreende a relativa azia de muitos dos adeptos do Benfica à saída do Estádio da Luz, após uma importantíssima vitória, diante de um poderoso adversário, na mais importante competição de clubes do mundo.
Na verdade, não só os resultados da jornada significaram um verdadeiro "Jackpot" para as pretensões encarnadas, como a exibição dos comandados de Jesus foi, durante 75 minutos, provavelmente a melhor e a mais conseguida de toda a temporada, bem ao nível do que de mais brilhante o Benfica fez em 2009-2010.
Durante esse período o Lyon foi vulgarizado, ante um futebol rápido, incisivo e eficaz, que foi elevando, com naturalidade, o resultado para números que, a dada altura, pareciam capazes de fazer a Europa do futebol abrir a boca de espanto. Era de uma goleada que se tratava, com um exuberante 4-0 a ameaçar tornar-se ainda mais pesado para os homens de Claude Puel - que já via os adeptos do seu clube a exibir uma tarja pedindo a sua demissão.
Para o Benfica tudo corria pelo melhor. A vitória estava assegurada, o estádio em apoteose, e o adversário rendido, restando esperar que o Schalke não se lembrasse entretanto de fazer um golo em Israel – o que, de facto, não iria chegar a acontecer.
Com um mar de rosas diante do seu nariz, Jorge Jesus terá então pensado (e bem) que era altura de poupar esforços, e preparar o importante jogo de domingo. Saíram Saviola, Kardec e Carlos Martins, e a componente ofensiva da equipa ficou entregue a Felipe Menezes, Jara, Weldon, César Peixoto e Sálvio, nenhum deles habitual titular, alguns deles sem qualquer ritmo competitivo. Entende-se a ideia, o único problema foi que o Lyon, puxando dos galões de grande equipa europeia, continuou a jogar.
Desconcentrações sucessivas, perdas de bola, passes errados, e faltas desnecessárias, foram oferecendo aos franceses a oportunidade para reduzir os danos, e evitar a humilhação. A cinco minutos do fim o placar assinalava ainda assim um pomposo 4-1, que espelhava, com nitidez, o que se havia passado no campo. Dois golos mais haviam, porém, de descaracterizar os números da partida, irritando a plateia, e retirando brilho à noite de gala que se vivera até então.
O que ganhou o Benfica nesta jornada de campeões? Muitíssimo! Desde logo os pontos, o dinheiro, e o resgate de uma boa posição classificativa com vista aos oitavos-de-final.
O que perdeu com aqueles três golos? Em termos de Liga dos Campeões, pouco (apenas uma hipótese de poder vencer o Schalke por 2-0 na última ronda, e, em eventual igualdade pontual, beneficiar da vantagem nos golos – enquanto agora, nesse hipotético caso, teria de ganhar por 3-0). Mas em vésperas de um jogo decisivo diante do FC Porto, uma goleada europeia seria um forte e precioso estímulo, ao passo que aquele último quarto-de-hora (em que até Roberto voltou aos erros) não deixará de limitar o entusiasmo, e danificar os níveis de confiança individuais e colectivos.
De qualquer modo, seria tremendamente injusto olhar para a noite do Benfica a partir desses últimos minutos. Afinal de contas, enquanto a equipa esteve verdadeiramente em campo, enquanto pôs os olhos no jogo e no adversário que tinha por diante, foi capaz de empolgar, foi capaz de seduzir, foi capaz de golear. É esse, e não outro, o Benfica que vai tentar ganhar no Dragão, e que vai lutar até ao fim pelo apuramento na Champions League. É esse, pois, que merece o aplauso e a admiração dos adeptos.
Quem merece, igualmente, admiração e aplausos é Carlos Martins. Terá realizado uma das melhores exibições da sua carreira, à qual só faltou um golo. Quatro assistências, vários passes de ruptura, muitas recuperações de bola, e todo um manancial de arte para mais tarde recordar, elevam-no claramente a homem do jogo.
Também Fábio Coentrão merece destaque, não só pelos golos, mas também por uma exibição ao nível das que têm colocado o seu nome nas mais requintadas prateleiras dos mercados internacionais.
Uma palavra ainda para César Peixoto, que não é um craque (nada a ver com os dois anteriormente citados), mas também não é tão mau jogador como muitos benfiquistas o pintam. Nesta partida, exceptuando um remate incrivelmente falhado, esteve globalmente bem, procurando jogar simples, fechando o corredor, e dando indicações de que, em determinadas situações, tem também a sua utilidade.
Não dei por qualquer erro grave do árbitro. No entanto, não vi ainda qualquer lance na televisão.
Com seis pontos alcançados, e dois jogos “ganháveis” para disputar, o Benfica tem nas suas mãos o apuramento para os oitavos-de-final. Um Benfica ao nível dos primeiros 75 minutos desta partida será mais do que suficiente para o conseguir.
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