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O DRAMA DA DECADÊNCIA

Written By irvan hidayat on Selasa, 28 September 2010 | 03.28

Vi integralmente o jogo Sporting-Nacional, e se aquela foi a melhor exibição do Sporting no campeonato (como já ouvi por aí), muito mal vai a equipa de Alvalade.
O golo de Saleiro foi um grande golo, Vukcevic fez um grande jogo, mas de resto…nada. Foi até o Nacional que, depois do empate, esteve mais perto do 1-2. Já contra o Benfica a exibição leonina tinha sido medíocre, e sinceramente não vejo esta equipa como candidata a coisa nenhuma.
Mas o que se passa com o Sporting está muito para além daquilo que, conjunturalmente, se vê nos relvados. Não há “um” problema do Sporting. Há vários, e muito difíceis de resolver.
Á cabeça de tudo creio que existe uma completa assimetria entre as aspirações dos adeptos e a história do clube, por um lado, e o seu potencial presente (quer económico, quer desportivo), por outro. Isto ultrapassa a própria equipa, o treinador, e os jogadores, que acabam por ser mais vítimas do que culpados de um grau de exigência para o qual não têm, nem podem ter, resposta.. Na verdade, o Sporting já não é um clube grande, já não está no mesmo plano que Benfica e FC Porto, e muitos dos sócios ainda não assimilaram essa nova e triste realidade. Qual o caminho para recuperar a grandeza? Mesmo que o soubesse, não o dizia. Mas, honestamente, não me parece fácil.
Em segundo lugar, José Eduardo Bettencourt é um homem sério, será com certeza um gestor de empresas competente, mas não tem manifestamente perfil para liderar um clube de futebol. Está a revelar-se um flop total, e desde que assumiu a presidência, o Sporting não para de cair. Consequentemente, as escolhas feitas não têm sido as melhores, ninguém compreendendo, por exemplo, o que tem Costinha de experiência directiva, ou de sportinguismo, para assumir o futebol do clube.
Entalado entre esta realidade, e um plantel sofrível (Nuno André Coelho, por exemplo, nem era convocado no FC Porto, sendo agora titular indiscutível no Sporting), e para mais afectado por algumas lesões de jogadores nucleares, Paulo Sérgio (como antes Paulo Bento, ou Carlos Carvalhal) será quem menos culpas tem neste cartório.
Desde os tempos de José Peseiro (final da Taça Uefa, e quase, quase, título nacional) que não me recordo de ver um plantel minimamente credível em Alvalade. Curiosamente, foi nessa altura também que, institucionalmente, o Sporting perdeu a oportunidade histórica de, aliando-se ao Benfica, desferir o golpe de morte no FC Porto de Pinto da Costa, então de gatas na sequência do eclodir do processo Apito Dourado. O ódio ao rival lisboeta falou mais alto, e o manifesto que Dias da Cunha assinou com Luís Filipe Vieira acabou queimado pela contestação ao próprio presidente sportinguista, e pela azia causada pelo título de Trappatoni. Daí para cá - com Pinto da Costa irradiado, com o FC Porto despromovido, com uma limpeza total no futebol português (à semelhança do que aconteceu em Itália) só possível nessa conjuntura peculiar, e utilizando a força conjunta dos dois rivais lisboetas - o Sporting até podia ter sido campeão 4 vezes, tendo o Benfica conquistado precisamente os mesmos dois títulos que conquistou. E com outra gestão desportiva podiam estar em Alvalade: Varela, Carlos Martins, João Moutinho e até…Fábio Coentrão, que como se recordam chegou a ser dado como certo no Sporting, mas alguém achou que um milhão de euros era demasiado dinheiro pelo vila-condense.
Hoje temos um FC Porto com toda a sua força renovada, quer nos relvados, quer, sobretudo, nos bastidores. Temos um Benfica forte e afirmativo, que só factores subterrâneos têm impedido de atingir a bitola da época passada. E temos um Sp.Braga emergente, presente na Champions League, a desafiar o Sporting como terceiro candidato ao título. A este último, já nem o pontinho de vantagem que tinha sobre o Benfica lhe vale de consolo.
A chamada crise de militância (resultante de tudo isto) esconde uma realidade ainda mais dura: a perda efectiva de adeptos, bastando uma visita a uma qualquer escola para perceber que Benfica (claramente maioritário) e FC Porto (muito mais expressivo que há uns anos atrás) dividem as simpatias dos mais jovens.
É esta a verdade de um clube que foi grande e deixou de o ser.
Para os adversários, há muito que o Sporting deixou de meter medo, e passou a despertar pena - sobretudo para aqueles que, como eu, ainda o tiveram, em tempos, como um grande e temível rival.
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