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CABEÇA QUENTE E PÉ DIREITO

Written By irvan hidayat on Rabu, 15 September 2010 | 03.42

Estou em crer que muitas das insuficiências reveladas pelo Benfica nos últimos jogos advêm do caldo psicológico provocado pelas derrotas. O Benfica perde porque é prejudicado pela arbitragem, e, consequentemente, joga pior porque sente a pressão das derrotas. É este o ciclo - que, naturalmente, contempla também o sentido inverso (veja-se o FC Porto). É isto que tem sido frequentemente iludido por aqueles que tentam desviar as atenções das arbitragens, argumentando com a falta de plasticidade das exibições encarnadas.
Se alguém tinha dúvidas sobre os efeitos das derrotas na cabeça, e nas pernas, dos jogadores, a partida desta noite terá sido um documento perfeito para as dissipar. O jogo com o Hapoel mostrou-nos (como, de resto, seria de esperar) um Benfica nervoso, ansioso, intranquilo e pouco seguro das suas capacidades. Teve desta vez a sorte do seu lado (o primeiro golo surge num excelente momento), e contou ainda com uma arbitragem amiga (creio que Luisão fez mesmo penálti), o que também é demonstrativo de como a simples análise de um lance - e aqui estamos perante apenas um lance, num jogo, sendo certo que o Benfica não vai ser beneficiado com múltiplas decisões de arbitragem em quatro partidas seguidas da fase de grupos - pode condicionar o livre curso de um resultado.
Não significa isto que a vitória não tenha sido merecida. Foi-o. Mas há que dizer que, noutras circunstâncias (por exemplo, o Hapoel ter marcado primeiro), o jogo poderia ter-se complicado bastante para o conjunto de Jorge Jesus, que raramente mostrou segurança de processos capaz de matar o adversário e a partida, mau grado a fantástica exibição de Pablo Aimar enquanto brilhante e zeloso maestro de uma orquestra pouco afinada.
O que mais lamento na noite da Luz é, contudo, que poucos benfiquistas tenham percebido o momento da equipa e aquilo que o explica.
Na sequência do jogo de Guimarães falei aqui abundantemente de unidade, de apoio, de amor clubista. Disse que era importante que os benfiquistas interpretassem devidamente o que estava em cima da mesa. Esperava que dessem uma resposta à altura, mas, honestamente, fiquei desolado quando, ao entrar no estádio, deparei com as bancadas semi-desertas. Provavelmente não será um problema exclusivo do clube - há uma gritante falta de cultura desportiva no país, que põe sistematicamente rivalidades acima de paixões -, mas com o mal dos outros posso eu bem. Quando se pedem acções concertadas aos sócios, quando se clama pelo peso social do clube da Luz, quando se fala do “maior clube do mundo” e depois se percebe que, em toda a primeira jornada da Champions League, só o estádio do Benfica não encheu, há algo que tem de ser reequacionado. O pior é que alguns dos que lá estavam deviam, também eles, ter ficado em casa (já lá irei). E já nem falo da deplorável tarja exibida pelos Diabos Vermelhos.
Entrar a ganhar na Liga dos Campeões é motivo para festejar. O adversário não tem nome sonante, mas os três pontos valem tanto como se fossem conseguidos perante o Real Madrid. Se havia jogo importante nesta fase, se havia jogo que não podia, de modo algum, ser desperdiçado, era este: era o primeiro da prova, disputava-se em casa, perante o adversário teoricamente menos cotado, e num contexto interno muito problemático. A vitória seria, como foi, preciosa. Por todos os motivos, incluindo como calmante lançado em cima da efervescência dos últimos tempos.
Já destaquei Aimar, claramente o melhor em campo. Poderia também falar de Luisão, de Roberto (enfim transformado, pelo menos, e para já, num guarda-redes… normal), e, a espaços, também de Carlos Martins. Com nota baixa saíram aqueles que têm dado mostras de maior quebra de forma relativamente à temporada passada: Ruben Amorim, David Luíz, Javi Garcia, Saviola e Cardozo.
Fábio Coentrão esteve intermitente, mas não jogou mal. E Nico Gaitán prossegue o seu caminho de integração no futebol europeu, ora com acelerações, ora com um ou outro abrandamento (como foi, de certo modo, o caso deste jogo).
O árbitro apenas pecou no tal lance de Luisão. De resto esteve perfeito.

Deixei para o fim o caso protagonizado por Óscar Cardozo, após marcar o segundo, e decisivo, golo do jogo.
Não posso deixar de considerar que o paraguaio podia, e devia, ter evitado o gesto que fez. Mas também não posso deixar de o compreender, e direi até que, no lugar dele, dificilmente teria resistido a fazer o mesmo.
Na verdade, ao ouvir os primeiros assobios, também eu tive vontade de mandar calar aquela gente. Não era muita gente. Não tenho como avaliar a questão, mas parece-me que num estádio com 30 mil pessoas, se mil assobiarem e 29 mil estiverem em silêncio, a vaia soa a monumental. Não era pois a mim (que nunca seria capaz de assobiar um jogador do Benfica), nem à maioria dos benfiquistas que Tacuára mandava calar. Era antes a um número reduzido de auto-intitulados "adeptos", que teriam feito melhor em ficar em casa a ver o jogo pela TV, em vez de se deslocarem ao estádio para intranquilizar ainda mais uma equipa, já toda ela sob brasas.Cardozo fez bem em pedir desculpas. Mas a mim, enquanto sócio do Benfica, nem precisava de as pedir. Quem fez mal ao clube nesta noite europeia não foi quem marcou um golo decisivo. Foi quem, primeiro o assobiou prejudicando o seu trabalho (e acrescentando ansiedade também aos colegas), e depois “conseguiu” ignorar o festejo de um importantíssimo golo europeu para continuar a assobiar com disparatada indignação.
Não irei discutir novamente os méritos de Cardozo. Já o fiz muitas vezes, aqui e noutros locais. O que me parece estranho é haver benfiquistas que assobiam o seu grande goleador, como assobiavam Nené, como assobiavam Nuno Gomes, mesmo nos seus melhores tempos (será algum trauma com o golo, ou simplesmente não perceber nada de futebol?). Provavelmente, muitos deles são os mesmos. Provavelmente são também os que agora vaiaram César Peixoto antes sequer de ele pisar o relvado (David Luíz, por exemplo, por mais asneiras que faça merece sempre aplausos). Ou os que, no passado, fizeram a vida negra a vários guarda-redes do Benfica. Provavelmente são também os que gritavam histericamente quando Mantorras, a coxear, entrava em campo.
O Benfica ganhou o jogo. Mas alguns dos seus adeptos (quero acreditar que uma inexpressiva minoria), mereciam perdê-lo. Esperava, pelos vistos em vão, que todos percebessem o que se passava, e estivessem incondicionalmente com a equipa. Espero agora, por outro lado, que os dirigentes encarnados percebam que alguns destes adeptos não são mesmo para levar a sério.
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