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SABOR A POUCO...

Written By irvan hidayat on Jumat, 02 April 2010 | 04.57

Se antes do jogo alguém me tivesse proposto o resultado de 2-1, tê-lo-ia aceite sem hesitações. O Liverpool é um gigante do futebol europeu, tem na Liga Europa a sua grande oportunidade de conquista, e nesta fase da competição – marcada normalmente pelo equilíbrio - uma vantagem, por curta que seja, não deixa de ser...uma vantagem.
Olhando para o que se passou em campo, para o facto do Benfica ter jogado cerca de uma hora em superioridade numérica, e, sobretudo, para a relativa naturalidade com que deu a volta ao golo madrugador de Agger, não posso deixar de reconhecer que, com um pouco mais de sorte – e acerto na finalização – as contas da eliminatória poderiam ter ficado, desde já, bastante mais favoráveis. E confesso que, quando Cardozo transformou irrepreensivelmente o segundo penálti, me convenci que ainda surgiria mais um golito, que, a acontecer, poderia revelar-se decisivo.
Nada disto reduz a enorme felicidade que todos os benfiquistas devem sentir neste momento: pela grande exibição (foi disso que se tratou), pela vitória ante uma das melhores equipas da Europa (a quarta consecutiva sobre o Liverpool), pelo alimentar do sonho de ir ainda mais além na competição, e pelo grandioso espectáculo a que puderam assistir, dentro e fora do relvado, mais uma vez (a segunda em poucos dias) com as bancadas repletas de entusiasmo e amor clubista. Este 2-1 deixa todas as esperanças em aberto para o mítico Anfield Road, e creio que o Benfica tem hoje mais possibilidades de chegar às meias-finais do que tinha ontem.
O jogo começou muito mal, com um golo consentido a lembrar – também ele – uma épica noite de 2005 em que o Manchester United saiu da Luz vergado a uma derrota por 2-1. O Liverpool dava mostras de conhecer bem o Benfica, limitando-lhe o espaço, e procurando explorar amiúde os corredores laterais, onde Babel e Kuyt eram setas apontadas à baliza de Júlio César, mas, simultaneamente, também os primeiros tampões à construção de jogo encarnada. A ausência de Saviola fazia-se igualmente sentir, e as dificuldades que a equipa de Jesus encontrava no último terço do campo eram visíveis, mau grado os “convites” que a linha defensiva britânica demasiadas vezes distribuía.
Com a expulsão de Babel tudo mudou. Rafa Benitez não fez qualquer substituição, mas alterou radicalmente o seu modelo táctico, transformando um trio de ataque, com alas bem abertos, numa dupla ofensiva (Kuyt-Torres) sem extremos. Era o que o Benfica mais podia desejar, pois residiam precisamente nas alas todas as suas dificuldades nessa fase inicial da partida.
Daí em diante, o Liverpool - talvez também por se encontrar em vantagem - retraiu-se, deixou de ser ameaçador, e foi do Benfica o controlo quase absolto das operações, sabendo aproveitar muito bem a benesse que lhe caíra em mãos. É verdade que de nomes como Steven Gerrard ou Fernando Torres se pode esperar, a todo o momento, um golpe de génio. Mas se o inglês se mostrou, a espaços, ao nível da sua imensa categoria, já o espanhol teve uma noite para esquecer, à qual nem faltou uma oportunidade escandalosamente desperdiçada já em plena segunda parte.
Disse ao intervalo, para quem estava comigo, que tinha a certeza de que o Benfica marcaria pelo menos um golo. Sentia-o, na facilidade com que o conjunto de Jesus controlava o meio-campo, e também na rigidez de movimentos do espaço central da defesa do Liverpool - que mais cedo ou mais tarde proporcionaria a Cardozo novos ensejos para ser feliz. E ele não iria falhar sempre.
Acabou por ser de penálti, e por duas vezes, o que não deixa de ser irónico face ao que se tem passado com o paraguaio no campeonato português. Mas independentemente da forma como chegou ao(s) golo(s), tem de se dizer que o Benfica justificou em futebol, em domínio, em atitude, em classe, a vantagem que alcançou. A justiça fez-se desde a marca dos onze metros, e o resultado final, seja ele suficiente ou não, responde integralmente ao futebol praticado nos noventa minutos – sessenta dos quais reveladores de manifesta superioridade benfiquista.
Individualmente gostaria de destacar Cardozo, que mesmo desperdiçando várias situações de perigo, acabou por se tornar no pai desta vitória; e também Fábio Coentrão, que realizou mais uma grande exibição. O papel dos centrais fica marcado pelo golo sofrido, mas daí para a frente, tanto Luisão, como, sobretudo, David Luíz estiveram em plano elevadíssimo. Javi Garcia também foi dos melhores, tal como Di Maria, que no entanto insistiu demasiado em iniciativas individuais, mesmo quando elas não se justificavam. Em sentido contrário há que referir que Maxi Pereira, Carlos Martins, Aimar e Ramires ficaram longe daquilo que têm feito durante a época.
O Árbitro sueco realizou um trabalho pobre, o que infelizmente tem sido a rotina desta Liga Europa. Perdoou um penálti ao Liverpool (seria o terceiro, mas existiu mesmo); não expulsou Insúa com o segundo amarelo, como se exigia no lance da primeira grande penalidade; mostrou mal o cartão a David Luíz; mas também se deve dizer, em nome da verdade, que a expulsão de Babel deixa algumas dúvidas (um cartão amarelo talvez fosse suficiente). Nos lances dos penáltis assinalados nada a dizer, embora no segundo tenha sido o fiscal-de-baliza (finalmente deu-se pela sua existência) a dar a indicação.
Nota final para o comportamento absolutamente lamentável de alguns No Name Boys. O meu benfiquismo tem-me feito defender frequentemente a claque, mesmo para além daquilo que ela porventura merece. Desta vez porém, não posso deixar de exprimir o meu veemente desagrado com o ignóbil lançamento de petardos, e ainda por cima para perto do local onde estava estacionado o fiscal-de-baliza. Espero, e acredito, que sejam os próprios lideres da claque a pôr na ordem os elementos responsáveis por tamanha estupidez. Os restantes sócios do Benfica, a sua esmagadora maioria, mostraram de imediato o seu desagrado.
Veremos como a UEFA interpreta o sucedido, sendo que se a coisa for além da inevitável (e pesada) multa, haverá que apurar os responsáveis e retirar as devidas consequências.

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