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CONTRA A CORRENTE

Written By irvan hidayat on Selasa, 12 Januari 2010 | 07.16

Dois dos temas que mais estiveram em foco nas últimas semanas foram a petição pela verdade desportiva, e a pausa natalícia. Em ambas, a minha opinião diverge da maioria dos analistas.
Começando pelo segundo caso, é uma falsidade afirmar-se que só em Portugal param os campeonatos. Pelo contrário, só há um país onde não param (Inglaterra), e mesmo nesse há quem aponte o excesso de competição como responsável pela insuficiente prestação dos seus clubes nas fases mais adiantadas das provas europeias – em dez anos de Liga dos Campeões e Taça UEFA, as equipas inglesas só levantaram 3 troféus em 20 possíveis, o que não corresponde ao seu peso desportivo e financeiro. Espanha e Itália param uma semana, Alemanha e França param ainda mais, para referir apenas as principais ligas europeias. Estamos pois muito bem acompanhados.
Falando por mim, que adoro futebol, devo dizer que me sabe bastante bem um período natalício sem ele. Permite pôr as leituras em dia, rever filmes, dedicar mais tempo à família e às suas exigências, tranquilizar emoções, redefinir prioridades, acalmar o espírito. Acredito que quem viva do futebol (jornais desportivos, televisões etc) tome esta paragem por prejudicial. Não creio que seja o caso do adepto comum.
O que esteve em causa foi um fim-de-semana. Um simples fim-de-semana, que por acaso era justamente o de natal. O Benfica-FC Porto disputou-se a 20 de Dezembro, e a 3 de Janeiro já se estava a jogar para as taças. Nada a opor. Talvez devesse apenas fazer-se um esforço para que a paragem coincidisse com o fim da primeira volta, que mais não seja por uma questão de geometria.

Quando às novas tecnologias, há que primeiro definir muito bem o que são elas (o vídeo é uma nova tecnologia?), e como se pretende que façam parte do futebol (só ao nível da linha de baliza? para todos os lances de dúvida?), coisas que talvez não tenham passado pela cabeça de uma larga fatia dos subscritores da petição.
Não discuto as boas intenções de Rui Santos (acredito que gosta de futebol, e faz tudo isto em nome do que acha melhor para a modalidade), mas, quanto a mim, as suas propostas carecem de aplicabilidade.
Estou com Platini e com a FIFA. O futebol existe há mais de um século, e a razão da grande popularidade de que desfruta em todo o mundo está na manutenção das regras, e na sua simplicidade quase infantil. Um jogo do campeonato da Tanzânia é formalmente idêntico a um da Champions League, e assim deve continuar a ser. Mesmo no contexto nacional, ninguém acredita que seja possível aplicar qualquer tipo de tecnologia aos campeonatos distritais, ou mesmo às divisões secundárias, pelo que qualquer alteração de fundo corre o risco de partir o futebol em dois: o dos ricos e o dos pobres. Isso não parece preocupar Rui Santos.
Por outro lado, não sei muito bem como é que as “novas tecnologias” (vídeo?), poderiam decidir lances de fora-de-jogo, ou de penálti, sem se tornarem devastadoras para o ritmo e para o dinamismo dos jogos. No Râguebi ou no Ténis as paragens são já uma constante, mas o Futebol é um desporto corrido, que se pretende com o menor número de interrupções possível. Além disso, subsistem vários problemas de operacionalidade: como recomeçar o jogo após consulta ao vídeo em casos de não-infracção?, em que momento e como interromper os lances para consulta ? quem fornece as imagens ? como são escolhidas as câmaras ? seria possível instalá-las da mesma forma em todos os estádios ? quem iria pagar ? transferir-se-ia a suspeição do campo da arbitragem para o da realização das transmissões, sendo que esta passaria a interferir nas decisões ? São dúvidas que provavelmente resultariam numa resposta pouco satisfatória, mesmo para muitos dos adeptos da implementação destes métodos.

No fundo, as tecnologias são um caminho do qual só vemos o princípio e desconhecemos onde nos leva. Estou em crer que, não só não iriam dissipar as suspeitas (mesmo vendo as imagens raramente há unanimidade nos lances mais polémicos), como as iriam porventura alargar a outros âmbitos.
Para além de tudo isto, clubismos à parte (cuja cegueira por vezes tolhe as almas e os pensamentos), não creio que as arbitragens sejam o problema principal do futebol - todos vemos a Liga Inglesa na televisão, alguém acha importante alterar ali alguma coisa?
Num ambiente de grande crispação competitiva, custa-nos admitir que o nosso clube possa ser de alguma forma prejudicado, e é isto, para além do tradicional gosto do português em polemizar, que, exacerbado por programas televisivos verdadeiramente terroristas, trás as discussões de arbitragem para a ordem do dia. Tudo resulta naturalmente amplificado depois de duas décadas de manipulação de resultados em favor de um certo clube, sem que se tivessem visto as consequências justas. Mas a verdade é que, desde 2004, desde que foi desmascarado o polvo que dominava o nosso futebol, que, prejuízo aqui, benefício ali, não se nota qualquer tendência predominante nas arbitragens portuguesas que não seja a da simples incompetência. Em Portugal preocupa-me neste momento bem mais, por exemplo, o doping, ou a satelização de clubes, do que propriamente a arbitragem, pois esta até é relativamente passível de escrutinar.
Gosto de ver o futebol ao vivo, e quem o vê sabe que a maioria dos “escândalos” só emerge depois de três ou quatro repetições televisivas filmadas de vários ângulos. Já saí muitas vezes do estádio convencido de ter assistido a um bom espectáculo e a uma boa arbitragem, e é na televisão e em seus debates sanguinários que mais tarde vejo a barraca a ser montada por aqueles que nem pagaram o bilhete. Tal como Platini, creio que é justamente a televisão que está a matar o futebol, não só neste aspecto, como na hemorragia de transmissões - eu ficaria bem com quatro ou cinco joguinhos por semana, e só para o próximo fim-de-semana, sem PFC nem parabólica, estão programados cerca de trinta! - ou ainda na forma como impõe horários absurdos, afastando irreversivelmente as pessoas das bancadas. É natural que um homem como Rui Santos, que ganha a sua vida nesta espécie de parafutebol televisivo (um outro desporto, do qual não sou particular apreciador) pense de outra forma.
Para se combater a suspeição havia caminhos muito mais simples e eficazes, para além, naturalmente, de uma maior preparação dos árbitros. Por exemplo: proibir contactos entre eles e dirigentes, proibir empréstimos de jogadores a clubes do mesmo campeonato, alterar regulamentos no sentido de punir com irradiação imediata dirigentes e árbitros envolvidos em praticas de corrupção (desde a visita para o cafezinho à mala cheia de dinheiro) consumada ou não, e com descida de divisão os respectivos clubes. Este sim seria um caminho para um futebol mais puro, mais verdadeiro, sem perder uma gota da sua humanidade. Gosto demasiado do futebol como ele é (jogadores, relva, bola, balizas e árbitro). Espero bem que nunca o estraguem.

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