
Tendo por adversária uma equipa em ascensão, orientada por um técnico na moda, e estando à partida privado de Javi Garcia (e com Aimar e Luisão previsivelmente a meio-gás), o Benfica tinha pela frente uma noite com alguns sinais de ameaça no ar. O tempo também não iria ajudar, sabendo-se das características predominantemente tecnicistas da equipa encarnada. Era, enfim, um jogo delicado, que caso corresse mal poderia deixar as suas marcas na equipa e no próprio campeonato.
Um golo no primeiro lance de ataque não poderia ter sido melhor tónico para a equipa da Luz se tranquilizar, e quando Cardozo deu início ao seu terceiro hat-trick no campeonato (24 golos no total desta temporada, 70 desde que chegou ao clube), percebeu-se que a noite poderia afinal ser pintar-se de vermelho. Os problemas sentidos pelo Benfica frente a equipas ultra-defensivas não iriam, em princípio, colocar-se, pois a Académica teria de partir em busca do empate, e abrir as portas ao jogo. Em vantagem no marcador, o conforto da equipa benfiquista em campo contrastava, a partir daí, com o desconforto que o frio, o vento e a chuva provocavam aos mais de 41 mil nas bancadas da Luz (impressionante assistência para uma noite ferozmente invernosa).

Deve dizer-se, contudo, que o período entre o primeiro e o segundo golo encarnado não foi brilhante. Alguns passes errados, uma displicência aqui, um ressalto azarado ali, e era a Académica que parecia estar mais perto do empate. A obra-prima de Saviola pôs fim às dúvidas, sobre o jogo, e sobre a capacidade do Benfica - que, para além dos indiscutíveis méritos tácticos de Jorge Jesus, assenta em primeira mão no talento e na classe da maioria das suas figuras, capazes de, num momento de inspiração, virar uma partida de pernas para o ar. Javier Saviola é, nesse particular, o ás dos ases, o artista dos artistas, parecendo firmemente empenhado em resgatar todas as qualidades que fizeram dele um dos mais promissores juniores de todos os tempos (lembro-me bem do Mundial sub-20 em 2001), comparado na altura a Maradona, e que depois, porventura fruto da sua baixa estatura para avançado, foram postas em causa nas suas passagens por Barcelona e Real Madrid.
A discussão do jogo acabou aí, mas o grosso do espectáculo teve, pelo contrário, nesse momento o seu início. A Académica perdeu-se entre equívocos, sem saber muito bem se procurar reduzir distâncias ou evitar a goleada que se começava a desenhar, e o Benfica empolgou-se, partindo para um período muito bom, à imagem e semelhança daquelas que foram algumas das suas melhores exibições da época. Na segunda parte, mais dois de Óscar Cardozo e a séria ameaça de os números finais poderem chegar aos seis ao Nacional, ou mesmo aos oito ao V.Setúbal. O temporal que se abateu sobre o relvado, e o estado em que este ficou - para além da gestão de plantel que Jesus foi obrigado a fazer, retirando Aimar, Cardozo e Saviola - acabaram por condicionar o resto do jogo, salvando a Académica de males maiores.
4-0, belos golos, e uma imprescindível vitória são dados suficientes para os mais cépticos porem de lado as suas profecias. O Benfica está bem e recomenda-se, os seus jogadores lutam que se fartam, recuperam bolas, dão espectáculo, encantam as bancadas e estão na frente da classificação. O resto são peanuts…
Cosme Machado esteve mal ao não sancionar uma grande penalidade cometida por David Luíz - que, tem de se dizer, cometeu mais dois erros graves, um deles num atraso suicida a Quim com o resultado em 1-0, outro ao levar o cartão amarelo desnecessário, ficando agora em risco de não defrontar o FC Porto -, lance que, contudo, só se vê pela televisão. Ficaram também algumas dúvidas num eventual derrube a Ramires na área estudantil ainda na primeira parte. Mas com a chuva e o mau estado do terreno, há que reconhecer que o trabalho do árbitro não foi fácil.
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